Publicado 08/10
Estamos em fase de reciclagem: depois de 30 horas de voo, das quais restaram as imagens fortes do deserto da Califórnia, a Golden Gate banhada de Sol numa San Francisco vista do alto, as paisagens do Canadá, as geleiras do Alasca, o estreito de Bering, as Ilhas Kurilas na Rússia, a fossa das Kurilas, uma das mais profundas do mundo, que circunda o arquipélago de 56 Ilhas; o mar do Japão, a ponte do Arco-Íris e a imensidão da Baía de Tokyo, é tempo de ajeitar a cabeça e tentar entender o fuso horário e estas 11 horas a mais em relação ao relógio de casa.
Algo deve ser feito de imediato, nesta nossa chegada a Macau, porque esta missão representa o Projeto oficial “Brasil:500 anos”: E se aqui ainda é possível encontrar as marcas do primeiro grande poeta e literato da língua portuguesa, autor de Os Lusíadas, somos levados pela força de um impulso ao lugar onde ele viveu durante dezessete anos, defendendo e propagando a palavra portuguesa, primeiramente em Goa, na Índia, a partir de 1553, e depois aqui em sua Gruta, neste seu Santuário feito de tantos silêncios, de tantas meditações e de tantos propósitos, junto ao mar do sul da China.
Para alcançar-se este seu sagrado refúgio sobe-se uma grande escadaria. Aqui no alto há brisa forte, fontes, árvores e densa vegetação. Há também silêncio e respeito. Nesta Gruta paira a história: aqui, acima do tempo e dos homens, está o templo do Pai da língua portuguesa. Aqui na Ásia, aqui nesta acolhedora Macau, aqui neste Império do Meio do Mundo, está a Gruta de Camões! Pois enquanto penso no homem que é a síntese de um idioma falado por 250 milhões de pessoas em 5 continentes, imagino que se a criação intelectual é, de fato, o mais misterioso e solitário dos ofícios humanos, esta Gruta asiática é o santuário de sua grande causa. E diante da dimensão de tudo aquilo que ele criou, é possível dizer - sem medo de errar - que a partir de 10 de junho de 1580, data de sua morte - ocorrida em Lisboa - Camões renasceu através de sua obra poética e literária, porque passou a viver em cada homem, em cada sílaba, em cada prece, seja na doçura das expressões iniciais de uma criança; seja na explosão verbal de um adolescente; ou através da mensagem da experiência verbalizada pelas sabedorias de uma velhice.
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Em todos esses cenários ele vive, porque nada está mais vivo do que a palavra!
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E sendo Camões um poeta, e sendo esse poeta o pai da língua portuguesa, e havendo neste instante o propósito de homenageá-lo, talvez fosse conveniente recorrer a uma máxima de Shakespeare, aquela que considera o Poeta uma espécie de espião de Deus! Pois o Pai da nossa língua terá alcançado, neste caso, o benefício dessa divina sentença.
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Fonte: Clayton Rocha